quarta-feira, 14 de setembro de 2011

questão - 11

AFA
ACADEMIA FRANCISCO DE ASSIS

Nada existe por acaso, tudo é construído. Muitas vezes nos indignamos com tanta violência, com tanta corrupção, com tantas falcatruas. Nós ficamos perplexos também com tantos desastres ambientais. Tudo isso foi semeado, adubado, estercado, germinado, crescido por nós. No mínimo, por falta de não termos nos indignado antes. Até porque, hoje, temos muito medo de ser considerados rebeldes e subversivos, revolucionários e utópicos, loucos e desvairados, não denunciam, não resistimos, não fazemos greves, não exigimos os nossos direitos, não questionamos, não duvidamos. Infelizmente, todas as desgraças são anunciadas, ou foram semeadas por nós mesmos. Vejamos alguns exemplos: o vazamento na usina nuclear no Japão era uma desgraça anunciada. Dizem os especialistas que a usina poderia ser construída em muitos outros lugares e foi construída exatamente onde não poderia. Vejamos, no Brasil, um país de grandes extensões de terras, escolheram Angra, exatamente o lugar onde não se poderia construir usinas nucleares. Não sou nem quero ser profeta, mas Angra é uma desgraça, um inferno anunciado. Só para sua curiosidade, abra um dicionário, ou uma enciclopédia e olhe o que significa angra. Para minimizarem o problema, agora, estão treinando as pessoas para, se houver algum problema, “fugirem”. Imaginemos a aflição de todas as noites a gente dormir e imaginar que durante a madrugada, por exemplo, tem de fugir, escapar os efeitos radioativos. O mundo inteiro está preocupado com novos vazamentos. O que fazer? Se por um lado, a produção de energia nuclear é a mais barata, uns dizem que é a mais limpa e a mais renovável, por outro é a mais perigosa e não se tem a dimensão exata de um vazamento.

Décio Bragança Silva
asfapaz.blogspot.com

QUESTÃO    JURÍDICA

Crime de colarinho branco. Muitas CPIs – Comissão Parlamentar de Inquérito – já foram instaladas e outras engavetadas. Algumas foram até produziram investigações e denúncias que foram enviadas ao Judiciário, via Ministério Público. Se o Judiciário acolhe ou não as denúncias é outro problema. Depois de um tempo, muitos crimes são prescritos e isso inocenta ou pode incentivar novos crimes. A prescrição é sinônimo de impunidade!

As CPIs já detectaram muita remessa de dinheiro para o exterior. São milhões e milhões de dólares depositados fora do país. Para quê? Quem vai movimentá-los? Como serão usados? Se não é possível usá-lo livremente, para que esse montante inimaginável de dinheiro? Como se lava dinheiro? De onde nasce a lavagem? Para tornar o dinheiro limpo não é preciso aplicá-lo numa atividade formal? Quando se aplica formalmente o dinheiro, não é preciso declarar a fonte dele? Há árvores de dinheiro? Como se planta dinheiro? Na lavagem, pode ser produzido algum benefício para o povo, para as pessoas? Com o dinheiro sujo do, por exemplo narcotráfico, muitas famílias não são beneficiadas?

O Banco Mundial estima que, pelo menos, 500 milhões de dólares são lavados por ano no mundo. Por que as nações, todas, inclusive os paraísos fiscais, não se unem contra essa lavagem de dinheiro? Qual o lucro desses paraísos fiscais? Pior de tudo: o ladrão de galinhas é que vai preso. Isso não é defesa de ladrões de galinhas, mas...

Advogados altamente competentes e “especializados” sabem ainda como obstruir um processo. É preciso desobstruir ou criar alguns mecanismos de desobstrução de um processo. Eles não vivem fora do país e por isso nada fazem também o que o próprio povo não queira. Em outras palavras, o problema é nosso. Nós entendemos ser crime somente os crimes de sangue. Sem sangue, tudo é permitido, até sonegar, lavar dinheiro, explorar os trabalhadores, denegrir a imagem de quem quer que seja, só não se pode produzir sangue.

      Os crimes de colarinho branco e por isso são chamados de colarinho branco normalmente não produzem sangue, nem são espetáculos midiáticos. Esses crimes matam muito mais pessoas do que imaginamos. Aliás, são denunciados quando ultrapassam cifras astronômicas. Pequenos golpes do colarinho branco não são levados a sério.
      Sabemos e conhecemos alguns poucos criminosos, mas o número é muito maior, porque também seus advogados conseguem que o processo seja transcorrido em sigilo, em segredo de “justiça”. Então, a justiça tem alguns segredos que não sabemos e conhecemos.
      Ninguém, por exemplo, entende que um Daniel Dantas, um Paulo Maluf, um Celso Pita, um Duda Mendonça, um José Jesuíno, um Palocci, os anões do orçamento, os “ganhadores” de loterias, os caixa-dois de campanha, os empresários que fraudam licitação pública e que superfaturam com as obras, as sacolas e cuecas cheias de dinheiro, os empresários das contas-fantamas, os que promovem a evasão de divisas e tantos outros “enternados” – que usam terno e gravatas – sejam criminosos, ou estejam respondendo a processos.
      Isso sem falar nos muitos crimes ambientais. O modelo de desenvolvimento por que optamos é de devastador, destruidor, predador. Também esses crimes não são, por nós, entendidos como crime. “Teve sangue? Não. Então, não é crime!”
      Choramos a morte de Cristo crucificado, porque tem sangue derramado no corpo inteiro, mas não choramos a morte de muitos cristos explorados, humilhados, empilhados, exprimidos, famintos, sedentos, injustiçados, excluídos, marginalizados por nossas omissões e crimes.
      Nada disso produz sangue e por isso não acreditamos que seja crime. Sem medo de errar, posso afirmar, gritar, em alto e bom tom, que crimes sem sangue são mais terríveis e demoníacos, principalmente os de colarinho branco, do que os crimes com sangue.

QUESTÃO    UTÓPICA

O sonho enobrece as ações, as atitudes. O apetite dos sonhos é insaciável sempre há razões, motivos, causas para se sonhar mais e mais e mais e mais. Um sonho insaciável não traz indigestão, nem indisposição estomacal e/ou intestinal. Traz, sim, a possibilidade de saborear, experimentar novos alimentos e novos sabores. Os sonhadores não se satisfazem com alimentos e sabores conhecidos. Sonhar é causar a fome de justiça e de arte!

Só o sonho é capaz de imprimir em nós a confiança. Sem sonho, a desconfiança de todos e de tudo nos afasta das pessoas, afetando-nos profundamente. A desconfiança é uma doença produzida pelo medo que se tem das pessoas. Com medo, criam-se escrúpulos, enganos e desenganos, desilusões e escândalos, ciúmes e mentiras – como mecanismos de defesa. Com medo, torna-se impossível a construção de uma sociedade humana livre, liberta, autônoma, independente, verdadeira.

O sonho consegue fazer transformações: inteligência, algo finito e passível de erros, em sabedoria, bem durável, imortalizado, eternizado, divinizado. A inteligência pode até fazer guerras, construir estações interplanetárias, viajar outros mundos. A sabedoria julga prós e contras, decide pela vida e a vida em abundância e plenitude, escolhe o Bem para todos e para cada um.

O inteligente é palrador; o sábio é profundo. O inteligente fala o que sabe; o sábio sabe que não sabe nada!


QUESTÃO    ARTÍSTICA

Bruno Giorgi, um dos maiores escultores brasileiros, também pouquíssimo conhecido no Brasil, mas também muito admirado no mundo, em entrevista a Clarice Lispetor fala de suas idéias e de sua arte.

“De todas as artes, a escultura etrusca é a que mais oferece essa mistura de força e sensibilidade. Portanto, deve estar na massa de meu sangue. (...) Quando era ainda criança, minha mãe, não sabendo o que fazer de mim, que não gostava de estudo, e como eu sabia rabiscar mais ou menos, resolveu me inscrever num curso de pintura. Mas por engano, na hora da inscrição, matriculou-me num de escultura. Este foi a primeiro engano. O segundo, foi o acaso. (...) Acho que o melhor que possa acontecer a um artista é a encomenda, porque te obriga a uma grande disciplina, a um constante controle. (...) Não acredito em inspiração, como dizia Matisse, se não me engano, são dez anos de análise e dez minutos de síntese. A esses dez minutos de síntese os outros chamam de inspiração. (...) A minha maior alegria foi quando, não sendo visto, ouvi a conversa de dois candangos em Brasília. Um deles respondendo para o outro: ‘Não senhor, estás enganado, o Bruno não é gringo, é nosso’. (...) A gente se sente esmagado pela própria obra.”


QUESTÃO    HISTÓRICA

Servilismo: Nosso país, talvez, desde o seu início, tenha traçado seu destino: servir ao mercado mundial com madeiras de todas e muitas espécies, com cana de açúcar, com ouro e todas as pedras preciosas, com soja, com milho...
Em outras palavras, fomos e somos explorados, roubados, saqueados, espoliados. Hoje, pelo capital especulativo mundial, via privatizações, via liberalismo e neoliberalismo, fiéis à maldita mão invisível. Aqui, a mão de obra mais barata do mundo!
No início, a escravidão explícita; hoje, a escravidão implícita, “dita” escravidão branca. Na verdade, nunca conquistamos nada. Não lutamos pela independência, pela abolição da escravatura, pela República, velha, nova, velhíssima, novíssima...
Nunca tivemos idéias próprias, sonhos nativistas, ideais nacionalistas, utopias efetivas e revoluções concretas. O tempo todo servimos ao mundo e os nossos saberes e conhecimentos são reproduções dos saberes e dos conhecimentos europeus e norte-americanos.
Não tiramos proveito da mistura das raças e por extensão das diferentes culturas, como nos ensina o professor e antropólogo Darcy Ribeiro: “cheio de esperanças e sonhos, somos o povo mais aberto ao outro e ao novo, por isso cheio de oportunidades diante de si mesmo”.

QUESTÃO    EDUCACIONAL

Há uma distinção acadêmica entre modernização e modernidade. A modernização combina com os setores dominantes e se organiza de cima para baixo. A modernidade, porque se organiza de baixo para cima, combina com o bem-estar das pessoas.
Por isso é que se diz que o Brasil atingiu a modernização, mas não chegou à modernidade. Num artigo de jornal não importa essa distinção, nem a precisão dos conceitos. Importa que efeitos isso produz no nosso dia-a-dia.
Na tentativa de modernização do Brasil, desde a época Collor, quando disse que os nossos carros mais pareciam carroças, optou-se pelo neoliberalismo, pela ditadura do mercado, inspirado pelo satânico Adam Smith.
O argumento da época foi que o Estado era ou estava muito grande e por isso deveria privatizar – o que na era FHC foi prioridade. Assim, o Estado deveria só administrar e realizar obras públicas.
A atividade econômica, a distribuição de renda, as tarifas e taxas e impostos, administrados por agências reguladoras, não são responsabilidades do Estado. De modo geral, os economistas acreditam nessa idéia neoliberal, organizada, orientada, gerida pela “mão invisível” do mercado.
Só que as desigualdades se aprofundaram. Os extremos ficaram mais extremos: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres! A modernização não trouxe a modernidade.
O progresso técnico e científico não está trazendo bem-estar, qualidade de vida a todos e a cada um. Só que a carga tributária, o endividamento do setor público, as dívidas interna e externa estão aumentando e a impressão que se tem é que estão fora de controle.
O desemprego, a fome, a miséria.... alastram-se como erva daninha. A economia está, sim, globalizada, mas a riqueza, a produção, a indústria, o comércio, as escolas, os problemas são locais, no sentido bem geográfico. As fronteiras, porque as atividades econômicas continuam a se concentrar nos países ditos desenvolvidos, nos países ditos de primeiro mundo.
Por que não se propõe uma liberação completa das relações mercantis, sem subsídios imorais? Enquanto não houver liberação, continua o privilégio dos países e das pessoas que mantêm os bens e as riquezas, excluindo os que não as possuem. Pior do que isso: as bases econômicas locais e ou nacionais estão submetidas às condições do mercado mundial – especuladores demoníacos.
Pior ainda: os padrões de comportamento, os valores sócio-artístico-culturais são válidos e predominantes nos países do primeiro mundo – o que, hoje, não precisam dos pobres e do trabalho dos pobres países do terceiro mundo, já que o fluxo de informações permite o deslocamento instantâneo de enormes volumes de capital especulativo.      
Competitividade passou a ser a palavra da moda. Competitividade traz no seu bojo os conceitos de domínio e produção de conhecimentos. A inserção no mundo competitivo passa pela universidade.
Uma universidade é constituída em três pilares: ensino, pesquisa e extensão. As universidades brasileiras privilegiam o ensino – reprodução do já conhecido, repetição do já sabido, porque muito mais barato. Para o Brasil, se é que queremos um país sério e moderno, só há um caminho: pesquisa, pesquisa, pesquisa, em todas as áreas do conhecimento, para termos uma identidade.
Quero só levantar alguns dados oficiais e preocupantes, fazendo-me duvidar de um futuro promissor. Dados da Unesco: 72,4% dos norte-americanos; 92,2% dos franceses; 99,9% dos ingleses; 90% dos argentinos e 41,6% dos brasileiros estudam em universidades públicas. Dirão vocês – mas o que tem isso a ver?
Pesquisa é muito cara e deve ser de alguma maneira financiada pelo Estado. Infelizmente, o Brasil nunca recebeu um Prêmio Nobel de Física, de Química, de Medicina, de Fisiologia. Por quê? Porque aqui não se pesquisa. De quebra também não recebemos Prêmio Nobel nem de Literatura, nem da Paz – que não dependem diretamente de pesquisa.
Os outros países citados, inclusive a Argentina – que a gente despreza tanto – já receberam. Outros dados, agora, do Mec: 11,3% de brasileiros; 40% de argentinos; 21% de bolivianos; 33% de peruanos; 30,1% de uruguaios; 26,6% de venezuelanos; 20,8% de cubanos; 20,6% de chilenos; 14,3% de colombianos têm título universitário.
Observem que os números só foram comparados com os nossos “hermanos”. Se compararmos com os “gringos”... isso é muito triste, preocupante e angustiante – o que nos mantém na escala de um país subdesenvolvido.
País em desenvolvimento é mentira, balela, enganação, marketing... e o futuro? Só 3,8% de brasileiros fazem faculdade. E o resto? Triste destino: submissão, obediência, opressão, salários baixíssimos, fome, pobreza e miséria e até sem forças para resistir!
Um país se faz com homens idealistas e abnegados, entusiasmados e entusiastas, sensíveis e cúmplices com os problemas dos outros, cientes da exclusão de muitos pela pobreza, pela miséria, pela fome e pela ignorância.
Os governos federal, estadual e municipal parecem frios e insensíveis, porque acomodados e postos em pedestais e em andores. A economia não pode nem deve determinar os rumos e os investimentos na sociedade.
A economia deve e pode estar a serviço das políticas e das idéias e dos ideais, e não o contrário. O político é, antes de tudo, um ideólogo.
A convivência, a harmonia entre os contrários, a tolerância dos opostos e dos opositores, a unidade na pluralidade e na multiplicidade... são comportamentos e atitudes políticas. Eu, publicamente, me declaro intolerante e angustiado só de ouvir palavras, como leis de mercado, demanda, mercado de capitais, câmbio, bolsa de valores, cotação do dólar, risco internacional, protecionismo, fluxo de caixa, tarifas, taxas, impostos...
Um país, um estado, uma cidade não pode viver em função dessas palavras. A economia foi e será sempre uma madrasta, uma bruxa, um demônio, um diabo, uma desgraça... A política foi e será sempre uma mãe, uma fada, um caminho, uma determinação, uma finalidade, um destino...
A política foi e será sempre marcada, definida, proposta por idéias e ideais, juízos e julgamentos, atitudes e ações. Um país precisa de um desenvolvimento alicerçado em valores humanos e verdadeiros, construído no despertar das potencialidades e energias humanas e verdadeiras.
Por exemplo, mais importante do que o direito à propriedade é o direito à vida e vida com dignidade. Infelizmente, a sociedade atual tornou-se individualista, egoísta, porque consumista ao extremo e capitalista até na alma.
Vejamos: quando se fala, hoje, em educação, fala-se do mundo do trabalho, do mercado do trabalho. Será que se deva estudar para trabalhar? Para arranjar um emprego? Para ficar rico ou pensar que se possa ficar rico? Não é um contra-senso a escola preparar mão-de-obra e presenciarmos o fechamento de milhares postos de trabalhos?
Não será esse mundo do trabalho e do mercado o responsável pela exclusão de tantos e tantos cidadãos?
Não será esse mundo de trabalho e do mercado que motivou as mudanças na economia brasileira, obrigando o Estado a privatizar setores, principalmente os de infra-estrutura?
Não será esse mundo do trabalho e do mercado que obrigou e obriga as mudanças das leis trabalhistas, das leis da previdência social, das leis tributárias?
Não será esse mundo do trabalho e do mercado que garante a sobrevivência do capital e das altas taxas de juros, oportunizando a alguns lucros mais fáceis e maiores?
Não será esse mundo do trabalho e do mercado que nos ilude a todos com a promessa de acúmulo de bens, de terras, de capital?
Não será esse mundo do trabalho e do mercado que motiva a barganha por melhores salários e melhores condições de trabalho, diminuindo o próprio poder de compra?
Diante de tantas interrogações, fico aqui, meio triste e meio preocupado: para que educação? Para que escola? Há realmente a preocupação dos educadores com a cidadania, com a qualidade de vida?
Cidadania não é, inclusive, criar resistências a todas essas humilhações e explorações do capitalismo e do mercado? Por que, em tantas reuniões de professores, diferentemente de alguns anos atrás, tem de se falar em mercado de trabalho, em pesquisa de mercado, em mundo do trabalho?
Não estará a escola lançando para os senhores do grande capital eficientes mãos-de-obra, cada vez menos valorizadas?
Não estará a escola fazendo um papel indigno, ou, no mínimo, diferente daquele a que foi proposto na sua criação?
Alguns professores e até de renome nacional, como Arnaldo Niskier, no final de 1999, abrem mão da presença até do professor. Pergunta ele: “Haverá prédios escolares no novo século? Haverá aulas em que professores e alunos se encontram num espaço chamado sala de aula?” Que pena?! Até tu, Arnaldo!?
Sem escolas e sem professores haverá a destruição da possibilidade do desenvolvimento de uma cultura embasada em valores coletivos e éticos, da cooperação e da solidariedade, da resistência e busca de novos caminhos. Toda parafernália eletrônica, em educação, decreta o fim do desenvolvimento da cidadania e, por extensão, de uma fraternidade possível. Não se trata de ser contra ou a favor, por exemplo, de ensino na modalidade a distância. O problema é que os meios, os instrumentos educacionais, as modalidades de ensino são menos importantes do que os agentes da educação: professor e alunos. Os meios não podem ser mais importantes do que os fins.
É triste, muito triste, ver uma fila de desempregados com diplomas nas mãos. O diploma não tem de servir para nada mesmo! Vêem-se muitos empresários, artistas, empreendedores sem diplomas; “Quem sabe, faz; quem ao sabe, ensina a fazer!”
O problema não é ter ou não ter diploma. O problema é ser ou não ser empreendedor, ousado, visionário, humano, valoroso... É preciso desdiplomarizar a sociedade! Lembrando a frase do professor uberabense, Danival Roberto Alves: “Tudo está para ser feito, para ser construído em Uberaba, em Minas Gerais, no Brasil!”
Os nossos estudantes, que pena!, com diplomas nas mãos não sabem o que fazer e muitos ainda acreditam que não há nada para fazer, que tudo já está pronto. Pior ainda não sabem como agir no mundo.
A título de academizar a discussão, Aristóteles faz diferença entre fazer e agir. O máximo do fazer, a excelência do fazer é a técnica e a arte. O máximo do agir, a excelência do agir é a virtude e a sabedoria.
Para ele, a escola só tem sentido se caminhar nos trilhos da arte e das virtudes, da técnica e da sabedoria. E disse isso há mais de 2000 anos e nós ainda não lhe damos ouvidos.
A gente, na escola de hoje, todos nós estamos desaprendendo a fazer e a agir! Quanto tempo dura um diploma? Quanto tempo dura a educação do fazer e do agir, do conviver e comunicar, do conhecer e do saber, do ser? As universidades fornecem diplomas que duram muito pouco tempo, ou ainda não servem para nada.
É urgente a revolução das e nas escolas. Quando o professor Cristovam Buarque (vou repetir essa história milhões de vezes!) era ministro da educação quase matou com uma cacetada só todos os diretores e donos e empresários de escola e de cursinhos, afirmando que os vestibulares deveriam ter só duas disciplinas: Matemática e Português!
Em outras palavras, propunha que se todos soubessem somar, dividir, multiplicar e diminuir (Matemática), se todos soubessem ler, ouvir, escrever e falar (Português) – porque são matérias instrumentais – deveriam ter acesso às universidades.
A pressão lobista foi tamanha que foi demitido do ministério desrespeitosamente, por telefone. Conta-se ainda que houve uma reunião dos “donos” das escolas, em Brasília, com o ministro, antes de sua demissão, tentando colocar panos quentes, para que eles, os donos, os empresários, os investidores em escolas continuasse a fazer dinheiro, muito dinheiro, iludindo a todos sobre a necessidade de fazer escolas, de aumentar o número de escolas.
Nesse momento, o professor Cristovam Buarque toma a palavra e diz: “Ta bom! Então, vamos acrescentar nos vestibulares as matérias: Geografia, História e Ética!” Nova confusão, nova baderna! Queriam linchar o ministro, até que alguém pergunta a ele sobre as novas matérias. E ele responde serenamente: “História para sabermos de onde viemos; Geografia para sabermos onde estamos e Ética para sabermos para onde vamos!”
Vaias, sussurros, ovos chocos, tomates podres! Lula, o nosso Lulinha, não suportou a pressão: demitiu o ministro desumanamente!
Escola não significa automaticamente educação, da mesma maneira que casamento não significa automaticamente amor; que leis significam justiça; que religião não significam fé; que emprego não significa trabalho...
Não precisamos de escolas, precisamos de educação! Não precisamos de casamento, precisamos de amor! Não precisamos de leis, precisamos de justiça! Não precisamos de emprego, precisamos de trabalho! Não precisamos de religiões, precisamos de fé!
Vamos observar a proposta do ex-ministro e professor Cristovam Buarque. Ousada, criativa, séria! De que precisamos para viver? O que a escola ensina? Ensina a amar? Ensina a justiça? Ensina o trabalho? Será que, neste mar de lamas e assaltos políticos, não está exatamente consciência de quem somos, onde estamos e para onde queremos ir? Ou chegar? Não será preciso ensinar, desde cedo, as crianças que ser honesto, ser trabalhador, ser homem de fé, de esperança, ser homem de bem e do amor... é condição sine qua non para se vive em sociedade?
Estar-no-mundo é interferir no mundo! Cristovam é professor. Não sabe negociar princípios e valores. Valores, aqui no Brasil, têm todos os significados possíveis, até o de propina, de compra de votos, de compra de apoio. Que vergonha!
No Brasil, já disse alguém que não sei quem, é um país surrealista que provoca inveja em Salvador Dali. É preciso criarmos um Salvador Daqui!

QUESTÃO    LITERÁRIA

Aguinaldo Silva, hoje muito famoso como escritor de novelas, tem idéias bem claras a respeito das pessoas e do povo brasileiro. Como novelista, claro, tem interesses comerciais e principalmente de audiência – exigência de contrato – o que não o desmerece, nem lhe tira o seu valor inquestionável.

Vamos conhecê-lo, usando suas próprias palavras: “Há escritores que, por suas intenções demasiadamente boas, dividem os homens em dois comportamentos estanques, os bons e os maus. Os primeiros geralmente pobres e honestos; os segundos são os que detêm o poder – quer dizer, os que têm dinheiro e o mundo. Esses escritores, igualmente por força de suas intenções, reconhecem apenas um tipo de miséria – aquela que resulta mais imediatamente das injustiças sociais. Mesmo considerando que essa é a miséria urgente, eu reconheço que existem várias outras a serem combatidas. Por exemplo, aquelas provocadas pelos efeitos do preconceito e da repressão. Isso é que me faz escrever sobre pessoas, com sua miséria pessoal, próxima da miséria dos bóias-frias.”


QUESTÃO     ECONÔMICA

Temos escrito e insistido que, hoje, tudo está submetido à economia que “exige” liberdade total e absoluta do mercado, sem interferência nenhuma do Estado, sem nenhum controle político. Essa ideologia começa com Adam Smith com a sua “mão invisível” – o mercado tem capacidade de autocontrolar-se.

A explosão neoliberal acontece na década de 80 e implode no ano de 2008. Suas promessas e perspectivas não se realizaram. Prometeram desenvolvimento, dividir o bolo, mas sem controle, criou-se a instabilidade financeira. Daí, acontece a explosão de consumo, estimulado pela publicidade e marketing. Muitos, a maioria das pessoas acreditou ter capacidade de saldar os seus financiamentos. Muitos compraram sem dinheiro, iludindo-se com as luzes e cores das “coisas” à venda. Assim, havia mais dinheiro virtual, sem lastro, sem valor real.

Li e não sei onde (já procurei onde li para fazer referência) que para cada dólar real havia quarenta e sete virtuais – promessa de pagamento. Em outras palavras, todos nos sentimos quarenta e sete vezes mais ricos. Então, nadamos de braçada e não chegamos à praia.

Essa falta de controle, essa não interferência do Estado, essa liberdade de mercado produziram a redução drástica e dramática de investimentos na produção, criando a modalidade de capital especulativo. Os espertos e expertos tomaram o caminho das bolsas de valores; as pessoas tomaram o caminho do consumo. Nossas dívidas aumentaram assustadoramente. As dívidas externas e, principalmente, as internas dos países saíram de todas as formas de controle.

A inflação bate à porta de todos os países e muitos estão entrando em desespero como nos Estados Unidos, na Grécia, na Espanha, em Portugal...

Aqui, agora, no Brasil, o fantasma inflacionário está nos espreitando. Aumentaram os juros. Estará aí a solução? O aumento de juros pode conter o consumo e frear a inflação? Tirar dinheiro do mercado, como fez Fernando Collor no início de seu governo, não freia a inflação?

A possibilidade de comprar, de comprar, de comprar e de comprar não criou nenhum constrangimento e dívidas. Embarcamos – pessoas do mundo inteiro – numa canoa furada. Os problemas, os desequilíbrios, a crise não tardaram a acontecer. Dizem que dinheiro não aceita desaforo. Deu no que deu!

Nós, aqui, no Brasil, não percebemos ou não queremos perceber esses problemas e estamos ainda na mesma canoa. Olhemos para nossa cidade: nunca se viu tanta oferta de dinheiro, tantas empresas financeiras com rapazes e moças espalhados pelas ruas, gritando: “Quem quer dinheiro?” – “Você quer dinheiro?”

Além disso, publicidade e propaganda maciça nos rádios e na televisão. Ainda os empréstimos pessoais, o empréstimo consignado – oferta de dinheiro fácil. Todos estamos fazendo empréstimos e dívidas de um dinheiro que não existe. Dívida futura!

As financeiras transferem o dinheiro que deveria ser usado para a produção para as pessoas, que viram credores “eternos”. O comércio, dependendo do produto, divide tudo em suaves prestações. Dias atrás, vi na televisão uma oferta de uma loja que oferecia um telefone fixo por R$9,90 – nove reais e noventa centavos – em dezoito prestações. Que absurdo!

A compra de automóveis já foi proposta em cem – 100 – suaves prestações, sem entrada. Em oito anos, o automóvel já virou sucata. Hoje, o comércio, por exigência de normas do governo, não se pode vender um automóvel sem 20% de entrada, além de pagamento integral do IPI – Imposto de Produtos Industrializados – que tinha sido suspenso. E as avenidas e ruas e rodovias ficaram intransitáveis!

Foi uma insignificante medida e mesmo insignificante conteve um pouco o mercado de automóveis. Cria-se assim um novo problema para a indústria. A indústria continua a mil e o comércio a quinhentos quilômetros por hora. Os pátios das fábricas superlotam. Solução? Férias coletivas aos operários, ou, muito pior, demissão. Com a demissão, cria-se um problema ainda pior: crise social.

Não sou economista, sou um curioso que lê de tudo e dá palpite em tudo. Sou palpiteiro. Não seria interessante e salutar a diminuição progressiva dos prazos de financiamento? Por exemplo, a cada mês diminuir uma mensalidade? Se hoje se vende um automóvel em 50 mensalidades, no mês seguinte em 49, no outro mês 48 e assim até se chegar num prazo razoável. Neste ínterim, indústria e comércio vão se ajustando às “novas” regras que têm de ser conhecidas por todos interessados.

O maior problema, talvez seja a deteriorização da produção, por falta de investimento. O dinheiro, sem pátria e sem lastro, sem fronteiras e volátil, foi “aplicado” em bolsas de valores – templos do capitalismo.

O mundo econômico, infelizmente, foi construído em áreas movediças. O dólar não é uma moeda “conversível” em ouro. Em outras palavras, quem tem dólar não tem nada e pode e é emitido à vontade pelo FED – Banco central de lá. (E como fede!) o interessante ainda que mesmo não tendo valor, por exemplo, equivalente ao ouro, é a moeda comercial no mundo inteiro. Sem dólares, ninguém vende e ninguém compra.

Os Estados Unidos derramaram e derramam dólares, infeliz e irresponsavelmente, pelo mundo inteiro. Com isso, hoje, nenhum país quer dólares e o dólar ficou “barato”, como está acontecendo no Brasil. E como conter a baixa do dólar? Outro grande problema para os países exportadores, como é o caso do Brasil.

Em tempos de crise, aproveitadores prosperam e ficam cada vez mais ricos, aumentando as desigualdades. Todo boom produz um crack! Anteriormente, vivíamos no boom; hoje, no crack. O problema é que há ainda muito estímulo ao crédito. Daí, vieram as fusões, as aquisições, as incorporações, a falta de opções e, por consequência, a falta de concorrência.

Muito crédito, muito consumo, muitas dívidas, muitas inadimplências – está montado o círculo e o circo, ou ainda a ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar. O capitalismo não tem em sua base princípios e valores humanos, mas um simples jogo de interesses e intenções.

Com a economia degringolada, a salvação passa a ser o Estado – dinheiro público – socializando o prejuízo. O Estado antes odiado, porque não queriam a sua interferência nos negócios, agora é amado como o único e verdadeiro Salvador.

Pagamos uma dívida que não é nossa, que não contraímos. Existe outro caminho? Os economistas dizem, infelizmente, que não – perdem-se os dedos para não se perderem os anéis (o ouro, os dólares, os investimentos, os dividendos...) é mais importante para o sistema capitalista os anéis do que os dedos das pessoas.

QUESTÃO    EXISTENCIAL

Somos o amor e a paz! Somos todos chamados a viver plenamente. A vida em plenitude é uma meta, uma intenção, uma finalidade. Muitas rupturas e também muitos acordos deverão ser feitos. Vivemos complexas situações culturais. Quanto mais complexas, maior a responsabilidade de todos e de cada um.

Vivemos momentos de fascinante progresso que produz bem-estar e prazer. Quanto mais fascinante, mais opressor e mais excludente. Diante de um quadro assim, acredito estar na hora exata de exercitarmos a tolerância e a coragem de ser tolerante, de exercitarmos o diálogo e a coragem de se ser dialógico – aberto ao outro.

Há uma ameaça, mesmo que velada, à dignidade humana, já que a harmonia e a paz entre os povos estão à beira do abismo, a solidariedade e a cooperação estão jogadas às traças, a privacidade e as potencialidades de cada um são minimizadas quase que a nada, a zero.

O domínio das idéias (hoje, não se admite a rebeldia, a desobediência...) imposto pelo lucro, pelo sucesso, pelo dinheiro e pela fama, nos escraviza a todos, nos obscurecem a vista para a solução dos nossos muitos problemas.

Há um projeto existencial, mesmo que latente, porque em todos bate um coração ardente e desejoso de amor. o que está fora de nós – luzes e cores e sons – muitas vezes, nos cega os passos, nos obsta os caminhos, nos denigre o mistério da vida.

Os homens nasceram e vão continuar nascendo para ser testemunhos do amor e instrumentos da paz. “Senhor, fazei de nós um instrumento de vossa paz!”  Daí, a coragem e a paciência de diálogo – troca de lugares, através de palavras, idéias e ações.

O amor se constrói no diálogo e na partilha. A paz se constrói na justiça e na tolerância. No amor e na paz se elaboram as respostas às questões fundamentais, ao sentido social e individual da existência humana.

O que importa é não se perder o encanto e canto de exaltação à vida. Lembro-me de um ensinamento de um princípio e razão da vida em sociedade, proposto por meu pai, quando ainda seus nove filhos eram bem pequenos: “Condena-se o pecado, absolve-se o pecador!” 

Em outras palavras, queria nos dizer que devíamos nos tolerar, que devíamos nos amar e que não importava o que fizéssemos, porque seríamos respeitados e seríamos amados. O ser humano nunca, jamais, em tempo algum, em lugar algum, deve ser julgado e condenado – o que não significa pacto com o erro, com a coisa...

Lembro-me ainda do slogan dos jornalistas franceses, em 1968: “Não concordo com nada o que você diz, mas lutarei até a morte para que você tenha liberdade de dizer o que quiser. Lutarei até a morte para que você se expresse, para que você não fique calado!” Isso é diálogo respeitoso e construtivo. Nada disso é fácil.

A cultura do amor e da paz, porque proposta a longo prazo, pode ser fonte e estímulo para a semeadura de graça e de prazer, de purificação e libertação, na abertura e diálogo. A prioridade é sempre a pessoa humana e suas relações fundadas no amor e na paz.

Nada se é conseguido sem sabedoria e santidade, sem esforço e generosidade – palavras proibidas no mundo capitalista e liberal, onde o lucro, a fama e o sucesso valem mais do que o homem e sua dignidade.

Nada é conseguido sem uma escala de valores verdadeiramente humanos e humanamente verdadeiros. Como sermos instrumentos de paz num mundo que aplica, investe 20.000 dólares em guerras, desgraças, opressão, mecanismos de controle, na cultura da morte, para cada dólar aplicado, investido em programas sociais, lazer, parques, jardins, educação, na cultura da paz e da vida?

São números oficiais da ONU – hoje, uma organização sem crédito e credibilidade. Ninguém mais quer ouvir a ONU! Vou repetir os números: para cada dólar investido na cultura da vida, gastam-se 20.000 na cultura da morte!

Nada é conseguido sem uma nova maneira de pensar e de agir, de amar e ser, de ser-mais e ser-melhor. Há uma ponto de partida: o amor! Há um ponto de chegada: a Paz! Entre esses dois pontos, a vida, a existência humana.

Um projeto existencial é feito no coração do homem, nas decisões política, na escolha de valores, na verdade da vida, na liberdade essencial e partilhada e compartilhada por todos. A cultura é o produto do esforço humano, é o resultado do trabalho de todos os homens e de cada homem. Como numa corrida de revezamento, cada um se esforça ao máximo para cumprir, para fazer o que deve ser feito e, depois, entregar o bastão da vida e do amor, da harmonia e da ciência, da justiça e da solidariedade, da ternura e da paz ao que está atrás, até que um cruze a linha de chagada. Quem venceu? Todos. Todos os homens. A humanidade.

A cultura é a sabedoria convertida em conhecimento, é a ciência que protege a todos os seres. A vida só poderá ser protegida pela ciência. Ciência que sufoca, que esmaga, que ameaça os seres vivos não é ciência, porque sem sabedoria. É a mesma situação dos políticos, poderosos e frios, interesseiros e oportunistas que se conservam no poder à custa da alienação de muitos. É a mesma a situação dos economistas, oniscientes e onipotentes, arrogantes e fascinados pelo poder mágico do capital, arrotam caviar depois de ter comido cebola. É a mesma a situação dos administradores, deuses da gestão de negócios e de pessoas, semi-deuses do controle e das guaritas, demônios do sadismo e da desgraça que gerem máquinas como se homens fossem e homens como se máquinas fossem. É a mesma situação dos professores, donos das verdades e dos absolutos, senhores das letras e das cabeças, conhecedores de métodos e técnicas, que propõem tarefas que não capazes de fazê-las, ou que anulam a criatividade, a criticidade e a inventividade de seus alunos.

O que se vê, desgraçada e infelizmente, é que a humanidade se afasta do homem, a ciência bestializa a muitos, a política desumaniza o povo, o mercado dita os desejos e as necessidades de todos, a economia prioriza o lucro, as escolas anulam as potencialidades...

O esplendor, a glória, o sucesso, a fama, o poder, as luzes, os sons, alucinantes e alucinados, não podem ser construídos no alicerce do descaso, do sacrifício, da submissão, da subserviência de muitos em favor de alguns pouquíssimos.

As religiões, as escolas, as famílias, alheias ao seu redor, insistem, apregoam, propõem sempre que a felicidade existe no futuro – o que confirma a situação política, econômica, social, cultural, espiritual em que nos encontramos. Felicidade futura não existe! Felicidade futura é como um arco-íris, sempre fora do nosso alcance. Felicidade é como aquele feno amarrados à frente do burro que corre, que corre, que corre e corre e nunca o alcança. A felicidade tem de ser construída agora. Aqui e hoje! Para tanto, cultura, ética, honestidade, moralidade, solidariedade, cumplicidade, companheirismo... não podem ser apenas conceitos, descritos em dicionários e enciclopédias.

Para tanto, cobiça, lucro, raiva, vingança, chantagens, permissividade, avareza, poder, exploração... devem ser cortados da vida humana, urgentemente, para que os países, as cidades não virem desertos, sem vida e áridos. A felicidade tem de ser construída agora! É inadmissível que os 225 mais ricos do mundo, segundo dados do Banco Mundial, tenham a mesma riqueza, posses e bens de 3.000.000.000 mais pobres do planeta – metade da humanidade!

A felicidade tem de ser construída agora! Historicamente, é sabido que mentes pobres e empobrecidas utilizam forças físicas de destruição, para se manterem no poder! Assim foram todos os imperadores em seus grandes impérios! Assim serão todos os imperadores! O mundo não pode ser um lixão – depósito de munições e bombas, de minas e de lixo.

A felicidade tem de ser construída agora! O racionalismo, o positivismo, o materialismo – mais do que correntes de pensamento, mas estilos de vida – não podem – e já provaram isso – solucionar problema humano algum.

O cogito de Descartes só retardou e retarda ainda hoje as possibilidades de “Amo, logo existo”, “Sinto, logo existo”, “Creio, logo existo”, “Falo, logo existo”...  O cogito é insuficiente para controlar a força da vida, tanto individual quanto coletivamente. O amor e o sentimento, a fé e a crença, as palavras e as linguagens, ultrapassam qualquer forma de controla racional, legal, institucional, político, policial, pedagógico, ideológico...

A felicidade tem de ser construída agora! A lógica só percebe as ondas e as marés dos grandes mares e oceanos da profunda complexidade e complexa profundidade humana. Possivelmente, são nessas profundezas e complexidades que residam a força, a energia, a garra, a gana, a utopia, a paixão, a arte, a criatividade, a espontaneidade...

A felicidade tem de ser construída agora, porque tudo – inclusive a vida – é urgente. Muito urgente! O corpo humano é harmônico e vive e sobrevive independentemente da vontade do homem. Cada célula de nosso corpo já nasce para fazer o que tem de fazer. São pouquíssimas as atividades físicas do homem dominadas, gerenciadas, geridas pelo próprio homem. “Meu coração, meus aparelhos circulatório, respiratório, digestório, urinário... trabalham sem me dar satisfação. No entanto, eu digo que são meus!”

Se imaginarmos o corpo social como esse corpo, cada um fazendo o que deve e pode ser feito, talvez como nosso corpo, já teríamos alcançado a harmonia do corpo-social, do corpo-humanidade. A felicidade tem de ser construída agora! Há quase três mil anos, os gregos, no templo de Delfos, fixaram uma inscrição: “Conhece-te a ti mesmo!” Até hoje não aprendemos e não nos ensinam os caminhos, as trilhas, os atalhos, os mapas do auto-conhecimento.

Somos jogados na sociedade sem nos conhecer. Somos jogados na sociedade do levar vantagens, onde a felicidade de uns exige a desgraça de outros. Somos jogados na sociedade que ainda não aprendeu a respeitar a dignidade humana, a entender, a viver, a conviver, a sobreviver para ser-mais e para ser-melhor.

O mercado, as bolsas de valores, os economistas globalizantes, o preço do dólar... não podem ser o mestre, o guia, o guru, o deus, único e verdadeiro. Quanta insensatez! Quanta estupidez! Não há felicidade criada por força de lei, nem por força armada. Há de se pregar uma grande revolução individual e coletiva, concomitantemente, uma estimulando a outra, concretizando, na prática, de que o amor vale a pena, a justiça vale a pena, o trabalho vale a pena, a ciência vale a pena, a sabedoria vale a pena!

Muitos dirão que tudo isso, que os nossos desejos, são sonhos irrealizáveis, são uma loucura, são uma utopia. Só o utópico é capaz de andar e ultrapassar as pedras no cominho, com alegria e inteligência. Todo utópico transgride leis, criadas e frutos de interesses e intenções de alguns poucos, mas repudia todo mal e todo crime contra a pessoa humana, porque sente a alma e os desejos de uma comunidade, ou até mesmo de uma nação inteira. Todo utópico diz o que é, sem mentir a si mesmo e aos outros, porque é um ser de palavra. Todo utópico ultrapassa os limites dos dogmas e das verdades inquestionáveis.

Uma casa construída na areia não resiste a uma primeira e miúda chuva. Uma casa fundada em alicerces rochosos resiste às mais fortes e violentas tempestades. A utopia é o cimento do alicerce.

O devir, o porvir não ameaçam os utópicos, nem lhes imprimem medo. A utopia não tem limites. Daí, medo e ameaças são situações muito pequenas da vida do homem diante da grandeza e magnitude do ser humano!

Homem medroso é inútil, não serve para nada. Homem que se sente ameaçado é e está acuado dentro de si mesmo, como os caracóis! A realidade é menor do que a utopia, mas a imperfeição da realidade das relações humanas é que nos leva à utopia. Se fosse perfeita a realidade humana, seríamos realistas. Não teria sentido a utopia!

Todos os economistas “sadios” de todos os diferentes matizes afirmam que os postulados de nossa economia fazem crescer a concentração de renda, de bens e de riquezas – o que significa crescimento da desigualdade, da maximização dos contrastes e dos disparates sociais. Na desigualdade, não há como construir uma democracia, porque não há proporcionalidade da oferta de empregos e de oportunidades e chances e luzes da esperança.

Ninguém, em sã consciência, poderá dizer que não houve um crescimento dos setores que lidam e cuidam das exportações, dos setores que lidam e cuidam da alta tecnologia, dos setores financeiros... São exatamente esses setores que mais desempregam. As crises políticas por que passamos nos últimos anos não afetaram a economia que resiste.a todos os nossos problemas políticos.

E por que resiste e resistiu? A quem interessa esse tipo de economia? Há um sentimento de que enquanto os políticos se acusam, se engalfinham, se destroem e se matam, os banqueiros, os empresários transnacionais e multinacionais e internacionais, os exportadores, a imprensa (jornais, revistas, televisões...) passam incólumes, intocáveis, intangíveis, rindo e lucrando muito da desgraça dos outros muitos. “Os cães ladram, enquanto a carruagem passa!” Estamos reféns de um capital financeiro especulativo!

A utopia acende as luzes. Por causa da utopia, há homens-luz e homens-sombra: Jesus Cristo e Judas Iscariotes, Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis, Cyrano de Begerac e Gil Blas, Dom Quixote e Sancho Pança, Tartufo e Stockmann, Leonardo Boff e Ratzinger, Pedro Casaldaghia e Marcelo Rossi... Os primeiros são dignos, virtuosos, belos, gênios, bons, gurus, modelos, ídolos, verdadeiros, luzes! Os segundos são medíocres, hipócritas, aproveitadores, torpes, servis, sacanas, bobões, babões, inúteis, sombras!                

QUESTÃO   NACIONAL

Infelizmente, as escolas e também as universidades se parecem com um campo de concentração, ou um espaço de confinamento com se faz com animais. Obedecer é o objetivo das escolas e das universidades. Promover a ruptura, a libertação não faz parte do cotidiano universitário, acadêmico, escolar. A ruptura, a libertação, a aprendizagem, a maioria de tudo que fazemos não acontece na escola, na universidade. Só para se ter uma vaga idéia da absurdidade das universidades: um estudante de Letras recebe seu diploma, se forma, sem nunca, nunca mesmo, ter lido um livro inteiro. Não leu romances, não leu poemas, não leu nada sobre estudos lingüísticos... e com o diploma na mão está autorizado, habilitado para dar aulas. Ah! esse estudante, em questão, poderá dar aulas até em cursos superiores.

Infelizmente, as escolas e também as universidades se parecem um museu de saberes desatualizados, desusados, anacrônicos, por causa de seus professores e de sua biblioteca. Vez por outra, os bibliotecários anunciam a todos os ventos e em todos os cantos: “Temos um livro de 1700.” Se alguém perguntar se tem livros de 2000, 2005... vem a resposta: “Mas, assim você está exigindo muito!”  Os professores mais velhos só sabem o que é velho – o que aprenderam quando ainda estudavam. Os professores mais jovens que fazem ou fizeram mestrado, doutorado, reproduzem na graduação o que, fascinados, aprendem ou aprenderam na pós-graduação. “Eles nos ensinam consertar estações interplanetárias e não sabe trocar uma lâmpada, consertar um fero elétrico” – palavras de um estudante de engenharia elétrica.  Essa história não significa que não se deva aprender a consertar estações interplanetárias, mas todo aprendizado é dinâmico, processual, espiralado. A vida é assim: o bebê conhece seu corpo, depois seus familiares, sua casa, sua rua, seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país, seu continente, seu planeta, seu universo. Inclusive, essa é a proposta da disciplina “Estudos Sociais: geografia e história”, do Ensino Fundamental, preconizado nos Parâmetros Curriculares.

Infelizmente, nas escolas, nas universidades, há muitos professores que não professam, muitos diretores que não dirigem e muitos servidores que não servem. É comum professores que encaram a profissão de professor como bico – algo que completa seu orçamento familiar. São bons profissionais e maus professores. É comum estudantes que não sabem o que querem. Estão na escola, por exigência dos familiares, ou por imposição sutil, ardilosa da sociedade. Formam-se, investem tempo e dinheiro e depois, de formados, não exercem a profissão. Para que abrir as portas e as janelas das Universidades – “Universidade para Todos” – se depois só poucos vão exercer a profissão para a qual estudaram? Necessariamente não precisariam fazer um curso inteiro, mas algumas matérias e disciplinas que pudessem ajudá-lo a ser-mais, a ser-melhor. Isso, sim, é universidade! Isso, sim, é universidade aberta!

É motivo de muita tristeza, o número de diplomados em cursos superiores que se inscrevem em concursos públicos para exercer funções como gari, motoristas, pedreiros, office-boys...  A tristeza é derivada não pela função em si, mas pela disputa desigual entre os diplomados e os que só cursaram, por exemplo, o Ensino Fundamental. Pior ainda é que muitas vagas são ocupadas por quem só fez o Ensino Fundamental, “derrotando” os diplomados, nesta luta entre Davi e Golias.  A maioria das vagas no emprego público exige formação do ensino fundamental, ou médio. São poucas as vagas para quem tem formação superior, que não são impedidos de disputar com os menos “letrados”.

Se há uma exigência escolar mínima, deveria existir também uma máxima. Mais ou menos acontece a mesma coisa com o salário: se o há mínimo, por que não haver o máximo? Partindo-se do princípio de quem tem um curso superior seja superior à média, quem tem curso superior tem de tratar de empreender, de criar, de fazer, de construir-se e construir os outros, de ser autônomo, independente. Fazer curso superior para ser empregado, um bom emprego... é, no mínimo, uma perda de tempo e de muito dinheiro!



QUESTÃO    FRANCISCANA


“Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus sejam o louvor, a glória, a honra, e todas as bênçãos!

A Ti somente, Altíssimo, eles são devidos, e homem algum é digno de mencionar teu Nome.

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, muito particularmente pelo senhor nosso irmão, o Sol, que nos dá os dias e com o qual nos iluminas: ele é belo e radiante, com grande esplendor, De Ti, Altíssimo, traz o testemunho!

E louvado sejas tu, meu Senhor, por nossa irmã, a Lua, e pelas estrelas, que formaste no céu, claras, preciosas e belas!

Louvado sejas tu, meu Senhor, por nosso irmão, o Vento, e pelo ar, pelas nuvens, e pelo sereno, e por todos os tempos, com os quais sustentas as tuas criaturas!

Louvado sejas tu, meu Senhor, por nossa irmã, a Água, que é muito útil, e humilde, preciosa e casta!

Louvado sejas, meu Senhor, por nosso irmão, o Fogo, com o qual iluminas a noite, e que é belo e alegre, robusto e forte!"